domingo, 24 de janeiro de 2010

Verões.


Suas mãos estão cheirando café, talvez porque ela tenha feito uma bagunça, uma baita bagunça na mesa.

-É hoje que ele volta, Sophia, é hoje.

-Calma, você nem gosta tanto dele assim, ou gosta?

-Talvez, eu não sei. Eu não sei nem o nome dele na verdade, nem o que ele pensa sobre mim, mesmo que parecesse tão sincero enquanto durou, ou talvez dure, eu não sei de mais nada.

-Ah, Frances, vai ficar tudo bem, afinal ele gosta de você, não é?

-Espero que ainda goste, mesmo eu não tendo pedido a ele para ficar, mesmo que essa fosse a minha maior vontade, mesmo que ele seja uma das poucas pessoas que entendam a minha simplicidade absurda e meu vício em cigarros e vinho.

-Você gosta dele então.

-Não faço a mínima idéia.

-Frances, já faz dois meses que ele foi embora e você nem toca no assunto. Isso é um sinal de que você tem medo.

-Talvez eu tenha, por nunca ter encontrado alguém assim e estar me apaixonando por ele, talvez eu tenha medo de perdê-lo e torne isso cada dia mais simples, mais fácil de acontecer, talvez ele deixe de me entender assim de repente.

-Por que você tem tanto medo?

-Porque eu nunca encontrei outra pessoa que me desse calafrios, porque eu nunca achei ninguém que soubesse que uma música pode mudar completamente meu humor, porque eu nunca achei ninguém que entendesse que meu momento mais feliz é quando sinto vento no cabelo pelo meu carro sem teto, porque eu nunca achei ninguém que soubesse fazer pequenos momentos serem grandes e grandes momentos serem maiores ainda.

-Você gosta dele, não deixe que ele fique longe.

-Espero que ele não me ache uma idiota, mesmo que eu pense isso de mim mesma.

-Você não precisa de outra pessoa que diga, afinal.

-É.

Chovia e estava frio, Frances estava nervosa, foi quando viu aquele cabelo preto voando e molhado, ela estava em frente a um táxi amarelo e sua visão embaçada os dois na rua vazia ficaram se olhando. Era como se fosse a primeira vez, o momento foi interrompido por uma buzina.

-Ei, menina, saia da frente do meu carro com essa coisa que você pode chamar de conversível! Vá aprender a dirigir!

-Cale a boca.

Ela o viu se aproximando e quando estavam próximos na chuva, tão próximos, pôde se ouvir:

-Ei.

-Oi.

E com um abraço, tudo o que não foi dito, nem nunca será, foi esquecido e encontrado.

O silêncio é muitas vezes mais explicativo, mais bonito, mais simples, mais necessário que qualquer coisa que possa ser dita.Frances nunca foi de falar muito e encontrou um outro silencioso.


Que bom.

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